segunda-feira, 27 de maio de 2013

valsa da dor



Tinham três kombis brancas paradas em frente a minha casa, um saco de pipoca com um resto de pipoca dentro da bolsa para evitar sujeiras urbanas e um desespero enorme classificando um medo de não ter que te encontrar morto em um caixão exposto no azulejo da minha sala.

Embora visivelmente não estivesses ali eu sentia cada vez que precisava limpar os pés, que tu estavas em meu tapete parado, morto, esperando não sei o que para ir embora da minha vida.

E todas as vezes que tu tentavas falar comigo, tu conseguias.

Sempre que eu te chamava,tu fingias que não ouvia.

Cínico, como uma sessão das 10 que espera a melhor parte do filme para causar sensações urinárias emergências.

Louco e sozinho, como o tempo que passou que demorou tanto tempo para passar que ninguém nem se importa que ele passou.

Aquela angústia naquele dia me deixou desesperadamente pronta para tirar o luto e seguir em frente, sabe deus pra onde, sabe deus porquê.

Mas eu queria,clamava,precisava te tirar de mim. Agora já era questão de orgulho e quando chega nessa parte tu sabes que eu não meço esforços para esquecer.

Naquele dia as três kombis fiscalizavam minha morada por,segundo eles, desrespeito vulgar, falta de paciência e discrepância com o tal de tempo.

Tava fudida e você ali, deitado em caixão confortável esperando para ser levado par a um lugar bem melhor do que qual eu estava.

Um dia eu te mato de verdade, filho da puta!


*imagem Diana Arbus