quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

o suor ajuda a levar as palavras embora

deitaram-se nus em palavras esperando apenas que a inspiração chegasse.
ele olhava para ela e via uma página em branco esperando para ser preenchida.
ela olhava para ele e não via nada. só esperava.
como se tivessem sido ligadas por música e pensamentos, as palavras começaram a dançar.
começaram na cabeça e se manifestaram mais intensamente nos dedos dele, que percorreram o corpo dela como se tentasse desamassar uma folha em branco que foi jogada fora apenas por ser considerada inadequada.
depois de passear pelo corpo, os dedos alcançaram uma caneta, que o fitava insistente da cabeceira.
pegou a esferográfica para poder ir mais longe.
então começou pelos pés, miúdos e descalços dela.
escreveu, não sabia bem o que, mas escreveu.
a caneta, que tinha cor vermelha, parecia que dançava junto com os pensamentos dela e se manifestava em tinta, as vezes forte, as vezes fraca, como um trompete de um jazz.
ela estava extasiada.
não se mexia.
se manifestou apenas pelo cheiros, que saiu de todos os seus poros.
ele, enquanto escrevia, conseguiu decorar cada posição dos pelos dela.
as palavras subiram as pernas, os joelhos, as coxas, como numa sinfonia.
cintura, costela, buceta. virou ela para escrever na bunda também.
só precisava de espaço para escrever.
aquele corpo era a nova morada de suas palavras.
subiu para a barriga, chegou nos seios, que ganharam palavras como espirais.
braços, pescoço e foi quando encontrou na boca dela o seu ponto final.
ela então disse> não para. estou perto de gozar.>
eles se abraçam.
o cheiro deles se misturam.
e o suor, como o passado, apagou todas as palavras.
nada mais faz sentido agora.

só aquele ponto final.